Objetivos
Comparar experimentalmente a resistência fornecida pela lei de Ohm e a resistência incremental, para um resistor não-linear (continuação da postagem anterior).
Introdução
Discutimos na postagem anterior os métodos de se calcular a resistência de um bipolo resistivo genérico, nomeadamente, (i) método incremental e (ii) pela razão tensão/corrente. Todavia, ali comparamos a aderência de um método ao outro e não testamos a validade da lei de Ohm para um bipolo genérico, cuja resistência tenha sido calculada pelo método incremental.
A lei de Ohm afirma que a tensão em um resistor é diretamente proporcional à corrente que passa pelo mesmo. Conforme mencionamos antes, isso só é verdadeiro para bipolos ditos ôhmicos ou resistores lineares.
A resistência elétrica de um bipolo (operando em regime DC) pode ser obtida de duas formas:
- Resistência pontual – divide-se a tensão pela corrente
- Resistência incremental – divide-se os incrementos correspondentes na tensão e na corrente
Aqui denotamos a resistência pontual por , embora isso não deva ser interpretado como observância da lei de Ohm pelo comportamento do bipolo. Pode ser que o bipolo seja não-ôhmico.
Figura 1 – Definições da resistência elétrica
A figura 1 ilustra as definições de resistência. Os gráficos são apenas ilustrativos, não significando que uma das resistências seja sempre maior que a outra.
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Comparação das definições e a lei de Ohm
Considere o conjunto de dados exibidos na figura 2 abaixo, que foram obtidos com uma lâmpada incandescente (lâmpada de filamento de tungstênio de tensão nominal 12 V e potência nominal 5 W) ensaiada com tensões de 0,5 a 9,5 V e incrementos de 0,5 V. Calcularam-se as resistências segundo as definições dadas acima.
Figura 2 – Tensões, correntes e resistências na lâmpada incandescente
Note que a resistência incremental oscila bastante, devido ao seu caráter de ser uma razão de incrementos, que aproxima a derivada da função I x V. A derivada amplia as flutuações da função, uma vez que ela exprime a taxa de variação para um dado incremento.
Verifiquemos agora se a lâmpada da figura 2 se comporta como um bipolo ôhmico em algum intervalo de tensões e correntes, dentro de uma tolerância de desvio de até 5%, por exemplo. Para tanto, devemos dispor de um modelo de referência. Uma das formas de se obter um modelo seria ajustar uma reta que melhor caracterize a regressão linear dos dados, segundo um critério de mínimo erro quadrático, para cada um dos dois casos acima ( e ).
O método de regressão linear foi revisto em uma postagem anterior, em que buscamos obter a reta do tipo y = ax, sendo a = estimativa da resistência. Naquela ocasião, a intenção era obter uma reta passando pela origem. Agora desejamos retas que melhor se ajustem aos segmentos “mais lineares” dos gráficos das resistências. Ou seja, desejamos retas do tipo y = ax + b, com .
Realizando os ajustes de regressão linear de mínimos quadrados para os dados da figura 2, obtemos os seguintes resultados:
- Resistência pontual:
- Resistência incremental:
Utilizamos a variável k nas expressões acima para indicar a variável indepdendente, porém no presente caso ela coincide com a tensão aos terminais da lâmpada, isto é , , com . A figura 3 apresenta os resultados do ajuste.
Figura 3 – à esquerda, os resultados do ajuste de regressão linear e à direita os gráficos dos erros. No gráfico da direita há a indicação da cota de 5% de desvio
Note que a flutuação no caso da resistência incremental é bastante grande em torno da reta melhor ajustada. Os gráficos dos erros mostram os erros relativos, dados pelas expressões:
sendo que denotamos por e os valores das resistências obtidos das retas do ajuste linear e, por e , os valores obtidos dos cálculos das resistências incrementais e pontuais, respectivamente.
Na figura 3 está indicado no gráfico da direita a cota de 5% de desvio, que permite determinar o intervalo em que a lâmpada tem um comportamento ôhmico com desvio inferior a 5%. Os resultados obtidos com a resistência pontual indicam uma faixa relativamente extensa e em concordância com o que se esperaria observando-se a figura 2. Já a resistência incremental não só apresenta ero grande, como também mostra uma tendência contraditória à exibida pela resistência pontual. Veja a figura 3 à esquerda – a resistência incremental apresenta uma tendência mais linear para valores menores de V do que para valores maiores, ao passo que o contrário ocorre com a resistência pontual. Ambos problemas apontam para a instabilidade numérica do cálculo da resistência incremental.
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Resistência incremental a partir de modelo
Uma forma de se obter melhores valores para a resistência incremental é ajustar um modelo polinomial aos dados da característica corrente x tensão e obter os incrementos e a partir do modelo.
Suponhamos que a curva I x V possa ser modelada por um polinômio do tipo . Nesse caso, tomando-se os logaritmos (de base 10, por exemplo) obteremos .
figura 4
A figura 4 apresenta os gráficos da figura 2, porém em escalas logaritmicas (exceto o gráfico da resistência incremental, que é o que desejamos obter a partir do modelo que vamos determinar). Não conhecemos o valor do expoente a da lei polinomial . Porém, ao apresentarmos em gráfico logaritmico, a lei polinomial tornou-se uma correlação linear entre log I e log V. Portanto, ajustando-se uma reta aos pares (log V , log I), poderemos determinar os parâmetros do ajuste polinomial. Note-se, entretanto, que a reta não passará pela origem, de forma que deveremos ter uma reta do tipo y = ax+b com . Realizando-se o ajuste obtemos:
Para apresentar no gráfico, construiremos a reta
apresentada na figura 5 em escala log x log juntamente com os pontos (V,I). Observa-se um excelente ajuste do modelo linear aos pontos.
Figura 5
A lei polinomial será agora obtida a partir de , determinando-se uma constante c tal que b = log c. Temos:
A partir dos pontos (V,I) obtidos do modelo polinomial , pode-se calcular a resistência incremental.
A figura 6 apresenta o gráfico de indicado como . São mostrados também os pontos resultates do cálculo da resistência incremental a partir do modelo polinomial, indicada como . Para efeito de comparação, são também mostrados os gráficos da resistência incremental , anteriormente calculada diretamente dos dados e da resistência pontual . Note agora o comportamento mais regular da resistência incremental.
Figura 6
Podemos agora ajustar uma reta aos pontos da resistência incremental , calculada a partir do modelo e determinar o erro percentual. A figura 7 mostra os gráficos respectivamente da regressão linear dos pontos, denotada por e do erro percentual .
Figura 7
Note a maior semelhança agora dos comportamentos dos erros percentuais da resistência incremental e da resistência pontual . A resistência incremental e o erro são calculados respectivamente por:
A faixa em que a aproximação da lei de Ohm em relação à resistência incremental calculada pelo modelo apresenta desvio inferior a 5% é bastante similar se comparada ao desvio em relação à resistência pontual.
2 comentários
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abril 21, 2008 às 11:49 pm
Joao Kogler
Os erros relativos foram exibidos em porcentagens nos gráficos, porém nas fórmulas omiti a multiplicação por 100 por esquecimento. Exemplo:
março 15, 2009 às 2:23 am
Lei de Ohm e resistores não-lineares « Videlicet
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